segunda-feira, 26 de março de 2012

Leia em primeira mão...

     “Douro. Há muito que não ouvia o doce som daquela palavra. Já quase se esquecera de como se pronunciava e mesmo no sotaque arranhado do filho lhe pareceu um coro de vozes angélicas. Como se poderia ter esquecido tanto tempo da sua amada terra?
  De um momento para o outro deu por si enleado por uma memória difusa. Lembrou-se de um dia de vindima. Após um dia de calor tórrido, uma trovoada abatera-se sobre a aldeia. Sim, até os trovões pareciam cantar de maneira diferente naquelas encostas. Refletidos no rio constituíam um espetáculo aterrador, porém, fascinante e grandioso. Lembra-se de o pai o ter pegado ao colo e correr encosta abaixo até um casebre. Ao entrar, foi de imediato invadido por um calor, um calor que se entranhava nos ossos e que desde que partira nunca mais voltara a sentir. A gordura que lacrimejava do fumeiro atiçava ainda mais as chamas.

     Esperava-os uma mesa colorida e farta, e o cheiro que dela emanava que seduzia os deuses. Ah! O pão! Nunca o seu paladar provara igual iguaria! Só de pensar naquele pão crocante e saboroso as suas pupilas gustativas ficavam em êxtase. Recorda-se ainda de ter pegado num naco de pão e metade de uma alheira e vir para fora assistir ao nascimento do arco-íris e respirara a doce fragrância da terra molhada.

     Perdido nesta nostalgia, José não se apercebera que o filho o chamava insistentemente: (…)”

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